sábado, 24 de março de 2012

Descobri o verdadeiro "X" da Questão


(SALVADOR - Fortuna e moral são excludentes?) Quando comecei a pesquisar sobre livros digitais, uma obra aparecia constantemente na lista dos mais vendidos: O X da Questão, da autoria de Eike Batista. O multi mega-bilionário brasileiro, figurinha carimbada e presença constante em toda e qualquer lista  que congrega as maiores fortunas mundiais, nos apresenta um livro nacisista, onde tenta construir uma visão da criação de um império "de baixo para cima", contando suas peripécias financeiras que o teriam guindado à atual situação abastada.

A primeira vez que ouvi falar em Eike foi numa situação banal. Numa atitude, ao meu ver, estúpida, a sua ex, Luma de Oliveira, aparece com uma "coleira" em pleno desfile da Sapucaí com o nome do digníssimo estampado no pescoço. Pensei: que bobagem! Nem sabia quem era o cidadão. Pelo nome, pensei até que fosse estrangeiro.

Depois de muito tempo, o nome do indivíduo começa a ser estampado como case de sucesso financeiro e, o Brasil, passa a conhecer e admirar o seu maior multiplicador de milhões. Surge um herói nacional. Um herói idolatrado por muitos brasileiros que, aos poucos, começavam a conhecer novos conceitos sobre finanças, como: home broker, mercado de ações, bolsa de valores, viés de alta, etc.

Este "herói", enfim, sai do anonimato, e começa a surgir o Narciso dentro dele. Passa a se orgulhar deste status e se apaixonar por sua imagem e auto-reverência. Daí vem, até mesmo, um livro exaltatório, quase ufanista.

Mas, algo nesta história não encaixa. Um cidadão que afirma ter enriquecido "de baixo pra cima" sabe muito bem o valor do dinheiro e do sacrifício que a sua falta proporciona. O sujeito que não nasce rico mas se faz rico conhece as agruras da vida, por conhecer a triste realidade dos pobres mortais.

E o que se espera destes seres abençoados? Que transmitam conceitos básicos e simplórios para seus filhos. Valores. Não, não são valores monetários. Valores. Valores morais. Pergunto: se, de um dia para noite, você se fizesse bilionário, você daria para o seu filho de 24 anos um carro avaliado em R$ 2,3 milhões? E se este seu filho tivesse 51 pontos na carteira por 9 infrações de trânsito cometidas, sendo 7 por excesso de velocidade? Ainda assim você lhe permitiria guiar uma "arma" que pode atingir a velocidade de 334 km/h?

Não sou do tipo de achar que a pessoa, só porque é rica, é culpada de tudo. Ter dinheiro, para mim, não se constitui um pecado mortal. Mas afronta a minha essência perceber que existe a percepção de que o dinheiro tudo compra e que todas as situações da vida se resumem a um aspecto matemático-financeiro.

Após o acidente ocorrido na Rodovia Washington Luís onde o playboy Thor Batista transformou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos em strogonoff no meio do asfalto, a primeira declaração do Sr. Eike Batista, desconhecedor da realidade fática foi: "o ciclista foi imprudente. Além de causar a perda da sua vida, poderia ter ocasionado um total de 3 vidas perdidas".

O que eu leio desta declaração? Que mais uma vez o Sr. Eike Batista trata um fato sob o aspecto puramente matemático. Perder uma vida é melhor do que perder 3, logo, o resultado financeiro desta situação lhe foi positivo. Pura lógica matemática.

Uma lógica tão contundente quanto às imediatas declarações do delegado que insinua, sem análise apurada, pela pseudo inocência do atropelador. Uma lógica tão pavorosa que impediu que o veículo fosse periciado no exato dia do acidente. Uma lógica tão aterradora que permite um condutor com 51 pontos conduzir tranquilamente seu veículo nas vias do Rio de Janeiro.

Na matemática, o X representa a incógnita. Ele guarda o valor escondido que, ao final tentamos descobrir. Bom.... para mim está claro agora. Escondido sob o X desta vez não encontrei um número. Encontrei algo que, se não me surpreende, me entristece. Oculto sob o X descobri, com pompa e circunstância um símbolo. Ao descortinar o X, finalmente, o revelei. Lá estava ele, forte e garboso: lá encontrei o famoso "$".

Ainda acredito que o BraSil pode, um dia, vencer o Bra$il.

2 comentários:

Pollyanna Melo disse...

Excelente texto.
Arrasou, Fábio!

Edson disse...

Muito bacana seu texto.A palavra chave do texto é valores. Valores que a cada dia se esvai. No caso em questão agora surgiu a hipotese do ciclista ter bebido.
Ainda que o tenha feito quererem eximir o "pobre coitado" do Thor da culpa é uma afronta a nossa inteligência e a qualquer senso de justiça que ainda habita no povo brasileiro.