(SALVADOR - Chocalho na Fonte) Ontem, no Estádio da Fonte Nova, aconteceu um fato peculiar. Evito,
propositalmente, chamar aquele belo local de Arena. Poxa, arena, vem de
areia e, na areia, os gladiadores lutavam até à morte. Que raio um estádio de
futebol tem a ver com uma arena? Estrangeirismo bobo e descartável. Portanto,
chamemo-nos de estádio. E ponto final.
Mas não é sobre isso que eu
queria falar. O assunto é a tal da "caxirola". Caxirola é um instrumento midiático criado
pelo mais midiático ainda Carlinhos Brown para se autopromover e encher o bolso
dele e daqueles que investiram nessa bobagem.
Estilizaram o caxixi,
inspiraram-se na força da horrorosa vuvuzela e criaram em brinquedinho
bonitinho, mas que em nada representa a cultura desse multicultural país.
Queriam homenagear algo? Que
exaltassem o caxixi, e dessem os louros a quem, efetivamente, os merece. Se a
vuvuzela representava um elemento cultural dos sul-africanos e, por conta
disso, foi “aceito” por toda a mídia internacional (apesar do efeito insuportável
que me fez, muitas vezes, desligar o som da TV), a caxirola é uma invenção
oportunista, dissociada de qualquer cunho cultural, uma vez que a cultura do
estádio de futebol no Brasil está vinculada, no máximo, às antiquíssimas
charangas, compostas por instrumentos de sopro e percussão, tocando as
famosíssimas Cidade Maravilhosa e Mulata Bossa Nova.
Criaram uma mistura de caxixi com
soqueira, num formato de granada de base plástica, e chamaram de caxirola. A
multinacional The Marketing Store (que faz as embalagens da McDonald's) ganhou a
exclusividade na fabricação do instrumento. Dilma e Marta Suplicy apareceram ao
lado de Brown balançando suas caxirolas tal qual espanholas manuseando as suas
castanholas. E distribuíram o adereço, que se pretende vender por 10 dólares/unidade, na entrada do clássico BA-VI, evento-teste monitorado pela FIFA para a Copa das
Confederações.
Mas esqueceram que Brasil não é
África do Sul.
Enquanto a expectativa dos sul-africanos em relação ao seu
selecionado se resumia ao grande orgulho de sediar a primeira Copa do Mundo
naquele tão combalido continente, no Brasil o futebol gera paixões que beiram a
irracionalidade.
Afinal, qual o adereço de mão
mais frequentado nos estádios de futebol brasileiros nos últimos 50 anos?
O
melhor amigo do torcedor: o radinho de pilha.
Pois é. O torcedor fanático, por mais
que adorasse o seu bom e velho amigo, nunca deixou de, em momento de fúria,
lançá-lo ao gramado a esmo, quando o seu time sucumbia em campo, deixando-o
humilhado. Quem já frequentou estádio de futebol já se deparou com essa cena
dezenas de vezes.
E, enquanto a vuvuzela não possuía
peso nem design que permitissem a materialização dessa fúria, somado à falta de expectativa do torcedor sul-africano,
o mesmo não acontece com o binômio caxirola-torcedor brasileiro.
O torcedor do Bahia, humilhado e
desiludido, ao tomar um chocolate de 5 na 1ª partida e, ao sofrer o 2º gol com 30 minutos do
primeiro tempo da segunda partida, protestou com a arma que estava às mãos: a
fatídica caxirola.
Com o pepino em mãos agora estão
FIFA, The Marketing Store, governo brasileiro e todos aqueles que defenderam
essa estupidez. Como ficará a imagem de todos ante uma chuva de caxirolas frente a um eventual fiasco da seleção brasileira? Pois não convém esquecer que este é um tipo de evento que atinge milhões (ou bi?) de espectadores, ao vivo, e à cores!
Já imaginaram um Brasil e
Argentina na Copa com goleada a favor dos hermanos? Haja catador de caxirola,
hein? Talvez Brown tenha que lançar uma sombrinha inspirada no frevo para proteger os jogadores em campo: a frevulina.
Um comentário:
Passados alguns dias ainda vale a pena refletir.
E com certeza irá ser pauta de outras discussões.
Particularmente não sou a favor da postura adotada pelos torcedores do Bahia ao jogar as caxirolas em campo. De fato, reprovável.
Também não sou contra a criatividade e o oportunismo, mas nesse caso o instrumento não representa a cultura do Brasileiro, tão pouco dos baianos.
Acho Carlinhos Brown um gênio (na arte que faz) mas não foi feliz...o oportunismo foi pernicioso demais. Ninguém é Idiota!
Nada justifica o ocorrido mas restou claro que o tomate foi substituído.
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