(São Luís de Montes Belos/GO –
Não fale. Escute e obedeça!) – Aristóteles definiu a dialética como sendo o
raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está
fundamentado em idéias apenas prováveis, e por esta razão, traz em seu âmago a
possibilidade de ser refutado.
Amo a dialética. Expor uma forma
de pensar. Argumentar. Ouvir o seu contraponto. Repensar...
Mas infelizmente (ou
felizmente... sinceramente não consigo me ver sem essa característica), sou
ainda mais fã da ironia. E pratico muito o que, em determinado momento histórico
se definiu como “ironia socrática”. Esta, nada mais é, do que simular
ignorância, fazendo perguntas e fingindo aceitar as respostas do interlocutor
(oponente), até que este chegue a uma contradição e perceba assim os erros do
próprio raciocínio.
Recentemente nas redes sociais
passei por uma situação constrangedora. Assustei-me ao ver um amigo de longa
data que, diante da situação periclitante vivida por nosso país no que tange a
corrupção nos 3 Poderes, clamava por alguma solução, ainda que esta viesse
pelas mãos de uma intervenção militar.
Surpreso, busquei entender o que
os militares poderiam resolver e a resposta foi, para mim, ininteligível. “Isso
nas traria ao caminho da ética e da moral”, ouvi. Caminhando na ironia
socrática, questionei o que os milicos tinham a ver com ética e com moral
(lembrei-me das aulas de EMC na sétima série. Seria isso?).
Acabou-se a dialética... Fui
excluído por meu interlocutor do rol dos seus “amigos virtuais”. Talvez pela
pergunta inoportuna. Isso me fez pensar.
Por que aos intervencionistas não
interessa a dialética?
Primeiro, precisamos entender o
que leva um cidadão comum a bradar por uma solução tão radical como a
intervenção. O motivo é nobre. Ora, se após a transição democrática o povo foi
chamado às urnas e ofereceu soluções de qualidade lastimável, a primeira idéia que
assoma a nossa mente é acreditar que o povo não possui o correto discernimento
para promover a escolha dos seus líderes.
Ora, passamos a acreditar, sob o
viés coletivo, que somos incapazes de escolher nossos destinos, diante do que
precisamos de um ser externo que venha nos dizer o que devemos ou não dizer,
fazer , agir.
Sob o viés individual, por sua
vez, acreditamos que apenas eu e um grupo pequeno de pessoas lúcidas (como eu),
sabe o que é melhor para toda a coletividade e, como somos/fomos incapazes de
assumir o poder na base do convencimento, apenas mediante uma ruptura podemos
construir uma base correta, limpa, que venha de cima para baixo e corrija esse
circulo vicioso.
Continuemos pensando...
Você já teve feridas tipo
furúnculos alguma vez? Arghhhhhhh. Que coisa nojenta! O que isso tem a ver com
dialética e intervenção?! Bom... Você verá que alguma relação existe.
Avancemos...
Se te aparecem furúnculos no
corpo. O que você faz? Você começa a extraí-los. E isso dói muito. É nojento.
Mas você avança. E sabe que coisa muito pior virá pela frente. Mas sem que você
respire fundo e avance no processo de lmpeza, não se livrará de todo o mal.
O que estamos vivendo no Brasil
hoje? Estamos purgando os nossos furúnculos. E quanto mais mexe mais porcaria
sai. Isso nos enoja, nos dá vontade de parar, mas precisamos seguir adiante.
Intervir abruptamente é fugir
dessa realidade. É fazer um curativo, um unguento. É, ao final, promover uma
maquiagem que nos impeça, ao menos, de observar o mal que nos aflige, e
acreditarmos que tudo está resolvido.
Mas a dor continuará. E com um
agravante... Não nos será dado o direito de reclamar.
E por que, enfim, os intervencionistas
não aceitam a dialética?
Quando acreditamos e promovemos
uma ruptura e exigimos a presença militar que nos ofereça a ordem e o
progresso, viramos a chave da construção democrática. A lógica militar é lastreada na hierarquia,
não no contraditório. Argumentar, discutir e convencer representam perda de
tempo. Ordem é ordem. Se não é aceita, o pau come até que seja.
Por isso é impossível argumentar
com um intervencionista. Ele não ouve, fala. Não pede, manda. Cabe a nós a
promoção da discussão e dos efeitos danosos de uma ruptura brutal da nossa
estrutura.
Nossos furúnculos devem ser
extirpados, em todas as esferas, ainda que nos leve mais uns 500 anos de
aprendizado.