sábado, 14 de janeiro de 2017

Intervencionismo versus Dialética

(São Luís de Montes Belos/GO – Não fale. Escute e obedeça!) – Aristóteles definiu a dialética como sendo o raciocínio lógico que, embora coerente em seu encadeamento interno, está fundamentado em idéias apenas prováveis, e por esta razão, traz em seu âmago a possibilidade de ser refutado.

Amo a dialética. Expor uma forma de pensar. Argumentar. Ouvir o seu contraponto. Repensar...
Mas infelizmente (ou felizmente... sinceramente não consigo me ver sem essa característica), sou ainda mais fã da ironia. E pratico muito o que, em determinado momento histórico se definiu como “ironia socrática”. Esta, nada mais é, do que simular ignorância, fazendo perguntas e fingindo aceitar as respostas do interlocutor (oponente), até que este chegue a uma contradição e perceba assim os erros do próprio raciocínio.

Recentemente nas redes sociais passei por uma situação constrangedora. Assustei-me ao ver um amigo de longa data que, diante da situação periclitante vivida por nosso país no que tange a corrupção nos 3 Poderes, clamava por alguma solução, ainda que esta viesse pelas mãos de uma intervenção militar.

Surpreso, busquei entender o que os militares poderiam resolver e a resposta foi, para mim, ininteligível. “Isso nas traria ao caminho da ética e da moral”, ouvi. Caminhando na ironia socrática, questionei o que os milicos tinham a ver com ética e com moral (lembrei-me das aulas de EMC na sétima série. Seria isso?).

Acabou-se a dialética... Fui excluído por meu interlocutor do rol dos seus “amigos virtuais”. Talvez pela pergunta inoportuna. Isso me fez pensar.

Por que aos intervencionistas não interessa a dialética?

Primeiro, precisamos entender o que leva um cidadão comum a bradar por uma solução tão radical como a intervenção. O motivo é nobre. Ora, se após a transição democrática o povo foi chamado às urnas e ofereceu soluções de qualidade lastimável, a primeira idéia que assoma a nossa mente é acreditar que o povo não possui o correto discernimento para promover a escolha dos seus líderes.

Ora, passamos a acreditar, sob o viés coletivo, que somos incapazes de escolher nossos destinos, diante do que precisamos de um ser externo que venha nos dizer o que devemos ou não dizer, fazer , agir.

Sob o viés individual, por sua vez, acreditamos que apenas eu e um grupo pequeno de pessoas lúcidas (como eu), sabe o que é melhor para toda a coletividade e, como somos/fomos incapazes de assumir o poder na base do convencimento, apenas mediante uma ruptura podemos construir uma base correta, limpa, que venha de cima para baixo e corrija esse circulo vicioso.

Continuemos pensando...

Você já teve feridas tipo furúnculos alguma vez? Arghhhhhhh. Que coisa nojenta! O que isso tem a ver com dialética e intervenção?! Bom... Você verá que alguma relação existe. Avancemos...

Se te aparecem furúnculos no corpo. O que você faz? Você começa a extraí-los. E isso dói muito. É nojento. Mas você avança. E sabe que coisa muito pior virá pela frente. Mas sem que você respire fundo e avance no processo de lmpeza, não se livrará de todo o mal.

O que estamos vivendo no Brasil hoje? Estamos purgando os nossos furúnculos. E quanto mais mexe mais porcaria sai. Isso nos enoja, nos dá vontade de parar, mas precisamos seguir adiante.

Intervir abruptamente é fugir dessa realidade. É fazer um curativo, um unguento. É, ao final, promover uma maquiagem que nos impeça, ao menos, de observar o mal que nos aflige, e acreditarmos que tudo está resolvido.

Mas a dor continuará. E com um agravante... Não nos será dado o direito de reclamar.

E por que, enfim,  os intervencionistas não aceitam a dialética?

Quando acreditamos e promovemos uma ruptura e exigimos a presença militar que nos ofereça a ordem e o progresso, viramos a chave da construção democrática.  A lógica militar é lastreada na hierarquia, não no contraditório. Argumentar, discutir e convencer representam perda de tempo. Ordem é ordem. Se não é aceita, o pau come até que seja.

Por isso é impossível argumentar com um intervencionista. Ele não ouve, fala. Não pede, manda. Cabe a nós a promoção da discussão e dos efeitos danosos de uma ruptura brutal da nossa estrutura.

Nossos furúnculos devem ser extirpados, em todas as esferas, ainda que nos leve mais uns 500 anos de aprendizado.


Nossos filhos e netos não podem virar estatísticas de mortos e desaparecidos em nome de uma ordem que nos garantirá uma pseudo felicidade. O que nos faz feliz é o que queremos, e não o que querem para nós.