quarta-feira, 28 de março de 2012

Salvador - Uma Ode Para Ti

São Salvador da Bahia,




Venho aqui te parabenizar. Não espero retribuição.
Nasci em 29 de março,
sou, portanto, um filho bem grato,
feito à tua imagem e semelhança.
És singular e cativa. Tens a benção de Yemanjá.
O mar te abraça envolvente. Ou és tu quem o abraças?




Disseram-me que no teu seio, cinco sentidos vivi.
Mas somente refletindo, entendi esta assertiva.
Na escola me ensinaram, que no mundo dos sentidos,
tato, olfato e paladar, somados à audição e visão,
compõem a totalidade, do que podemos sentir.




E nesta sinestesia, mergulhei num eu profundo.
Em uma íntrinseca viagem, iniciei minha hipótese.
Comecei na audição. E constatei que a cidade,
a capital da Bahia, tem na música identidade,
no batuque do Olodum, na repique do timbau,
na levada do agogô.




Vencida esta leve etapa, passei a te inalar.
Lembrei da Chadler dos Mares,
Do Beco do Couro, na ladeirinha perto da Castro Alves.
Do cheiro da maresia,
nas ruas do Rio Vermelho




No olhar és um desbunde.
Nas dunas do Abaeté, na vista lá da Ladeira
que do alto dos seus bregas, nos brinda com a Baía,
que só a Montanha nos pode oferecer.
O pôr do sol lá da orla, nas mesas do Barravento,
tendo o Farol como fundo, é um colírio aos olhos.




Provar você é um êxtase,
Na textura do acarajé, no tempero do abará.
Nas delícias de Dadá.
Herdaste de outras bandas,
da Mãe África distante, teu dendê e tua base,
onde o tabuleiro se lhe completa.




Enfim, como sentir Salvador?
No toque da sua gente.
No abraço amistoso de quem quer lhe convidar.
Na recepção calorosa do que acolhe por amor.
Sentir Salvador representa, um eufemismo em si.
Pois ainda na distância, Salvador está em ti.




Cinco sentidos: uma cidade.
Uma paixão e um grito de gratidão.
Parabéns Salvador.
Obrigado Salvador.

sábado, 24 de março de 2012

Descobri o verdadeiro "X" da Questão


(SALVADOR - Fortuna e moral são excludentes?) Quando comecei a pesquisar sobre livros digitais, uma obra aparecia constantemente na lista dos mais vendidos: O X da Questão, da autoria de Eike Batista. O multi mega-bilionário brasileiro, figurinha carimbada e presença constante em toda e qualquer lista  que congrega as maiores fortunas mundiais, nos apresenta um livro nacisista, onde tenta construir uma visão da criação de um império "de baixo para cima", contando suas peripécias financeiras que o teriam guindado à atual situação abastada.

A primeira vez que ouvi falar em Eike foi numa situação banal. Numa atitude, ao meu ver, estúpida, a sua ex, Luma de Oliveira, aparece com uma "coleira" em pleno desfile da Sapucaí com o nome do digníssimo estampado no pescoço. Pensei: que bobagem! Nem sabia quem era o cidadão. Pelo nome, pensei até que fosse estrangeiro.

Depois de muito tempo, o nome do indivíduo começa a ser estampado como case de sucesso financeiro e, o Brasil, passa a conhecer e admirar o seu maior multiplicador de milhões. Surge um herói nacional. Um herói idolatrado por muitos brasileiros que, aos poucos, começavam a conhecer novos conceitos sobre finanças, como: home broker, mercado de ações, bolsa de valores, viés de alta, etc.

Este "herói", enfim, sai do anonimato, e começa a surgir o Narciso dentro dele. Passa a se orgulhar deste status e se apaixonar por sua imagem e auto-reverência. Daí vem, até mesmo, um livro exaltatório, quase ufanista.

Mas, algo nesta história não encaixa. Um cidadão que afirma ter enriquecido "de baixo pra cima" sabe muito bem o valor do dinheiro e do sacrifício que a sua falta proporciona. O sujeito que não nasce rico mas se faz rico conhece as agruras da vida, por conhecer a triste realidade dos pobres mortais.

E o que se espera destes seres abençoados? Que transmitam conceitos básicos e simplórios para seus filhos. Valores. Não, não são valores monetários. Valores. Valores morais. Pergunto: se, de um dia para noite, você se fizesse bilionário, você daria para o seu filho de 24 anos um carro avaliado em R$ 2,3 milhões? E se este seu filho tivesse 51 pontos na carteira por 9 infrações de trânsito cometidas, sendo 7 por excesso de velocidade? Ainda assim você lhe permitiria guiar uma "arma" que pode atingir a velocidade de 334 km/h?

Não sou do tipo de achar que a pessoa, só porque é rica, é culpada de tudo. Ter dinheiro, para mim, não se constitui um pecado mortal. Mas afronta a minha essência perceber que existe a percepção de que o dinheiro tudo compra e que todas as situações da vida se resumem a um aspecto matemático-financeiro.

Após o acidente ocorrido na Rodovia Washington Luís onde o playboy Thor Batista transformou o ciclista Wanderson Pereira dos Santos em strogonoff no meio do asfalto, a primeira declaração do Sr. Eike Batista, desconhecedor da realidade fática foi: "o ciclista foi imprudente. Além de causar a perda da sua vida, poderia ter ocasionado um total de 3 vidas perdidas".

O que eu leio desta declaração? Que mais uma vez o Sr. Eike Batista trata um fato sob o aspecto puramente matemático. Perder uma vida é melhor do que perder 3, logo, o resultado financeiro desta situação lhe foi positivo. Pura lógica matemática.

Uma lógica tão contundente quanto às imediatas declarações do delegado que insinua, sem análise apurada, pela pseudo inocência do atropelador. Uma lógica tão pavorosa que impediu que o veículo fosse periciado no exato dia do acidente. Uma lógica tão aterradora que permite um condutor com 51 pontos conduzir tranquilamente seu veículo nas vias do Rio de Janeiro.

Na matemática, o X representa a incógnita. Ele guarda o valor escondido que, ao final tentamos descobrir. Bom.... para mim está claro agora. Escondido sob o X desta vez não encontrei um número. Encontrei algo que, se não me surpreende, me entristece. Oculto sob o X descobri, com pompa e circunstância um símbolo. Ao descortinar o X, finalmente, o revelei. Lá estava ele, forte e garboso: lá encontrei o famoso "$".

Ainda acredito que o BraSil pode, um dia, vencer o Bra$il.

sábado, 3 de março de 2012

Quando Eloá encontrou com Luísa, no Canadá

(SALVADOR - A TV é um espelho do povo ou o povo é um retrato da TV?) De vez em quando me pego a pensar sobre assuntos que, aparentemente, se encontram fora da minha realidade. Digo isto porque me parecem questões alheias a minha formação pessoal, profissional, humana, religiosa, etc. Mas, como eu sou do tipo que gosto de opinar sobre tudo, me arvoro no direito de expor as minhas idéias.

E hoje me deu na veneta falar sobre a mídia brasileira. Mas não quero entrar num estudo aprofundado sobre a história da nossa imprensa, seus interesses implícitos e explícitos, a sua penetração no poder político ou outros aspectos pitorescos e lamentáveis.

Quero me ater apenas à questão básica que assoma qualquer profissional que, minimamente, se orgulha da profissão que escolheu. Qual o papel do jornalista na nossa sociedade? O que um estudante, nas catacumbas dos rincões acadêmicos deste país almeja ao abandonar a universidade e adentrar no mercado de trabalho?

A minha visão é superficial, tangencial. Nunca tive a perfeita vocação para a comunicação conforme esta se delineia na nossa sociedade. Mas alguns aspectos me incomodam bastante, de maneira assustadora.

Certo dia estava a ouvir a CBN e me deparo com uma coluninha do Sr. Alexandre Garcia. Bem, nunca consegui dissociar a figura deste pseudo-jornalista à daquela sua aparição inicial na Rede Globo cuja atividade principal se vinculava a observar aspectos pitorescos do nosso Congresso Nacional, do tipo: "vejam a imagem do senador tirando meleca", ou "observem o ilustre deputado colando chiclete embaixo da bancada da CPI".

Este senhor, que em determinado momento da sua carreira chegara ao absurdo de apresentar um quadro tão grotesco e inútil no já combalido "Fantástico", bradava no meu rádio do carro contra outros jornalistas descuidados que não utilizavam o correto vernáculo. Por mais deselegante e anti-ético que o seu discurso parecesse ser, ele embasou o seu argumento em um caso prático que, para ele, era irrefutável: acabara de ler em um períodico que um alpinista havia se perdido no morro da Tijuca em uma escalada e estava a ser resgatado pela polícia carioca.
Jornalista das "melecas" do Congresso

Ora, do alto da sua sapiencia inabalável, a Alexandre "Gracinha" não poderia aceitar este tipo de absurdo com o correto uso da gramática. Afinal, alpinista é quem escala os Alpes, assim como andinista, os Andes e montanhista, uma montanha.

E lá estava eu, no meio de um engarrafamento a ouvir um cara que é jornalista da maior rede de televisão brasileira a destilar impropérios estúpidos e desnecessários utilizando o seu tempo para achincalhar um colega de profissão, sem ter a noção de que 99% dos seus ouvintes chamam, tanto aquele que escala uma montanha, uma parede, um prédio de alpinista, posto que se tornou popular e tradicional a prática de um esporte de escalada, denominado alpinismo.

Será que lhe faltava pauta? Será que ele esqueceu o seu funesto passado de "jornalista das melecas e dos chicletes"?

Bom, passados alguns dias, esqueci este assunto. Mas, um tempinho depois, assisto com espanto incrível uma enorme febre rolando na internet, onde todos perguntavam onde estava Luísa, que, supunha-se, estava no Canadá. O "fenômeno Luísa", após todas as explicações, teria sido fruto de um comercial televisivo realizado na pacata João Pessoa/PB onde, por equívoco na intenção do emissor, gerou uma expressão de pseudo-arrogância que soou estranha, sendo motivo de chacota que repercutiu de forma avassaladora em todas as redes sociais ganhando projeção nacional.

Ora, o que se espera de tudo isto? Que o cidadão comum ria um pouco e que, em dois dias esqueça o assunto Luísa, que nada agrega de interessante, representando apenas um chiste. Mas, como se portar o profissional de comunicação? Ora, entendo, pessoalmente, que o "caso Luísa" é um prato cheio para o profissional de jornalismo, de marketing, de publicidade que, ao estudar e entender a dinâmica de um processo microscópico que ganha despropositadamente uma projeção nacional, possa aprofundar o estudo deste processo midiático do que representa o gosto popular e pode representar um novo "case" de sucesso no mercado publicitário. Trocando em miúdos: se eu sou jornalista e vejo passar, na minha frente este "caso Luísa", vou estudar a dinâmica deste viral para que eu possa aprimorar o meu conhecimento na profissão e criar algo que possa se converter em um sucesso nacional.

Charge na internet para o "inteligente"
Carlos Nascimento
Aí me vem outro jornalista, o "ilustre" Sr. Carlos Nascimento, que apresenta a porcaria do jornal do SBT dizer em rede que é um absurdo a mídia dar publicidade nacional ao descartável caso Luísa. Que existem assuntos mais importantes para tratar e que nós já fomos mais inteligentes. Ele, afinal, deve saber o que é ou não matéria a ser explorada pois, se trata de um papa da imprensa nacional. Ora bolas! Um jornalistazinho de quinta categoria, em um canal de quinta categoria quer, agora, dizer o que é certo ou errado? Jornalista de superfície é, e sempre será, assim. Talvez por isto que ele esteja no SBT. Se o assunto é bobo, o seu processo formativo não o é, e deve ser estudado e esgotado por todo aquele que tem interesse em publicidade.

Passam-se mais alguns dias e, mais uma vez, vejo em todos os meios midiáticos o "julgamento do caso Eloá". Vi no UOL, na Globo, na Band, na CBN, no Jornal A Tarde, em O Globo, Estadão. E eu me perguntando: quem está interessado nisto? Conversei com umas 20 pessoas que me disseram estar "cagando e andando" pro julgamento. Realmente, o caso Eloá teve repercussão momentânea por questões óbvias, mas... daí ao seu julgamento ganhar a primeira página da mídia nacional um montão de tempo depois para este, que representa apenas mais um dos inúmeros casos policialescos que vivenciamos dia após dia? Pataquada geral.

Casamento Kate e William
15 dias de matérias no Jornal Nacional
Da mesma forma que ocorreu quando o Jornal Nacional ficou durante 15 dias (isso mesmo: 15 dias!!!!) apenas falando sobre o casamento do príncipe inglês. Sinto, sinceramente, que os nossos profissionais da imprensa escrita, falada e televisada estão atuando de forma descompassada com aquilo que a espera a sociedade brasileira. e, desta vez, não é a influência política a principal geradora deste descompasso. A grande causa está no vazio enorme entre o que queremos ver e o que eles querem que nós vejamos.

Pobre (e podre) mídia nacional...

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Em que momento o Chiclete se perdeu?

Formação atual da banda Chiclete com Banana
(SALVADOR - Me dá um beijo de açúcar, maluca...) Olha, vou dizer uma coisa... Não sou o maior fã no sentido de conhecer os detalhes da Banda Chiclete com Banana e, se alguém entender que o que estou dizendo é uma inverdade, por favor me corrija mas, uma vez que conheci a fase áurea desta banda nos idos de 80 e início dos anos 90, me atrevo a levantar algumas ponderações sobre este ícone da música baiana.

Capa do LP "Sementes",
ainda com a participação de Missinho
Em determinado momento da década de 80, a Banda Chiclete com Banana se consolidava como uma grande força musical na Bahia. Mas deixe-se registrado que isto nada representa aquilo que hoje entendemos por "grande força".



Primeiro, que a música feita na Bahia era totalmente desconhecida para o resto do Brasil. O Carnaval baiano era uma absoluta excentricidade pouco difundida nas esferas globais de comunicação. Segundo, que mesmo no próprio estado da Bahia a mídia televisiva e, principalmente, radiofônica, dava pouquíssimo espaço à produção cultural local. Quem viveu nas bandas de cá pode confirmar que 50% das rádios sintonizadas nesta capital soteropolitana apresentava, apenas, música estrangeira.


Minto... na verdade eram músicas em inglês, sendo 90% provindas das terras do Tio Sam. Michael Jackson, Queen, Lionel Ritchie, Madonna, Tracy Chapman, eram figurinhas carimbadas na programação diária das nossas rádios.


Outros 30% das rádios davam ênfase a MPB, de modo que se ouvia muita bossa nova, pop rock nacional, baladas, brega, forró (apenas em junho) e os sobreviventes da (não tão) Jovem Guarda, especialmente o Roberto Carlos. Músicas latinas eram exceção, onde me lembro apenas dos Menudos e do Julio Iglesias, sendo que ambos também gravavam em português.


Música da Bahia era artigo raro, restrito a poucas rádios e, muitas vezes, direcionada a um momento que intermediava o Reveillón e prosseguia, apenas, até o raiar da Quarta-Feira de Cinzas.


Capa do LP
"Sotaque Brasileiro", de Sarajane
Entretanto, neste mercado restrito, alguns artistas resistiam e conseguiam sustentar a sua carreira e o seu status. Cito, por exemplo, o próprio Chiclete com Banana, o Luiz Caldas, a Sarajane e o Cid Guerreiro. Ainda neste diapasão, havia as bandas Mel, Cheiro de Amor e Beijo. Na linguagem atual, poderíamos dizer que estes cantores, ou bandas, seriam auto-sustentáveis pois, apesar de atuar num mercado relativamente pequeno, conseguiam sobreviver através de um segmento onde pouquíssimos o conseguiam, qual seja, a música.



Neste contexto, o Chiclete com Banana apresentava grande peculiaridade. Esta banda era á única com fãs ferrenhos, seguidores e apaixonados. Eram os "tietes do Chiclete", tão exaltados em diversas músicas da banda. O que isto significava? Que o lançamento de um LP da banda já apresentava, de imediato, uma tiragem suficiente para retornar o parco investimento realizado e garantir a sobrevivência do grupo.




Grupo este de característica interessante. Não se tratava de uma reunião de amigos como ocorre usualmente na formação de conjuntos musicais. Essa reunião anárquica que facilmente une os músicos é a mesma causa que os desune, via de regra. Mas a banda Chiclete com Banana sempre foi em empreendimento capitaneado pelos irmãos Marques (Bell e Wadinho), sendo os demais membros os "funcionários" deste negócio. Ora, evidentemente o sucesso da empreitada refletiria imediatamente no bolso de todos e, por conseguinte, foi este o grande segredo da pouquíssima alteração dos seus integrantes ao longo de quase 30 anos.

Capa do LP "Magia", de Luiz Caldas
Ocorre que é difícil você ser o protagonista e ter resultado de coadjuvante. O vocalista e compositor da maioria das canções, Missinho, espelhava a identidade da banda e, por não aceitar o papel secundário, pulou do barco e partiu para a carreira solo, que não decolou. Neste momento, acreditou-se que a banda iria degringolar, fato que, com muita habilidade na gestão do empreendimento Chiclete com Banana, os irmãos Marques driblaram com maestria e, através de um trabalho fantástico, reverteram o "viés de baixa" e alavancaram o nome da banda num momento em que o Brasil começava a enxergar a música da Bahia, pelos pés descalços do fricote de Luiz Caldas no Cassino do Chacrinha.

Coadjuvante neste processo de projeção nacional, o Chiclete alçou vôos maiores. E, a despeito do amadorismo empreendedor dos seus afins (Luiz Caldas e Sarajane, principalmente), tratou esta oportunidade com um profissionalismo brilhante, iniciando através da parceria com o Bloco Camaleão, de Joaquim Nery. Findava a relação dicotômica Banda versus Bloco e o Chiclete com Banana passava a ter vez e voz sendo, inclusive, dono do trio elétrico utilizado pelo Camaleão.

Logomarca do "Nana Banana"
Com habilidade ímpar, zelosa negociação e respeito aos compromissos firmados, os irmãos Marques conseguiram disseminar a sua marca por todo o Brasil, levando a sua grife para diversos outros estados e emplacando o blockbuster Nana Banana. Os donos do empreendimento se transformaram em milionários do business Carnaval e os seus empregados seguiram o mesmo caminho, sendo remunerados de maneira compatível.




Bell recebe R$ 2 milhões da Gillette,
para raspar barba e bigode

O problema surge exatamente neste momento, onde a ilusão da unanimidade cega a crítica cultural. Nesta sanha empreendedora o Chiclete com Banana deixou a atividade criativa de lado e passou a se comportar como uma máquina de fazer dinheiro, perdendo a sua identidade, a essência que marcou a sua origem e ascensão na música baiana.
Onde existia música baiana entrou o Axé Music, onde havia o Tiete entrou o Chicleteiro, onde havia uma leve careca entrou uma bandana, onde havia uma banda restou, apenas e tão somente, uma empresa.

Cacik Jonne
E, como diz o ditado, "empresa não tem coração". E este coração inexistente fincou de maneira mortal os mais fiéis seguidores da banda, ao tratar o Cacique João (ou Cacik Jonne, como queiram) a uma posição de reles empregado, de elemento descartável. Acometido de uma doença degenerativa, esperava-se uma postura minimamente humana em contrapartida a um profissional que ajudou a banda a se firmar no cenário nacional. Não foi o que ocorreu, de modo que o seu ora guitarrista, ora baixista, foi jogado pra escanteio, a mercê da degeneração física que a sua patologia lhe impõs. E as catacumbas da Justiça do Trabalho poderão, um dia, retribuir em pecúnia parte da importância do trabalho do cacique. Infelizmente, acredito que o mesmo não verá, em vida, este resultado.

E este degenerar, indiretamente, afetou o aspecto criativo-cultural da banda. Não há mais a poesia de uma Selva Branca, o romantismo do Te Amo Tiete ou a magia do Beijo Cigano.

Hoje temos o reflexo da pobreza do "Ú tá-tá ú-tu-tá-rá-rá / No balanço do chiclete / Chicleteiro vai cantar" ou do " Chi cle te / Oba oba / Chi cle te / Oba oba".

Isso, com certeza, não é merengue, não é lambada, nem é Chiclete com Banana.


P.S. Esqueci, mas gostaria de mencionar algo importante. O Chiclete com Banana, antes de ser essa holding que hoje vemos, já foi uma empreitada que colocou o coração à frente do negócio. Prova disto foi a elaboração de uma faixa nada comercial no LP Sementes, chamada "Lili, o piloto da Alegria", uma singela e belíssima homenagem a Seu Lili, o motorista que conduzia o trio guiado pela Banda.


domingo, 5 de fevereiro de 2012

Roubaram meu Mamãe-Sacode

(SALVADOR - Eu quero muito mais que o som da marcha lenta) - Chegou fevereiro. Chegou o Carnaval. E o Carnaval, na Bahia, me leva à infância. Me leva a imagens, sons e sentidos que marcam a minha essência.

Nasci e cresci na Rua da Mouraria, bem próximo à sede do bloco "Os Internacionais". Acompanhava a elaboração dos figurinos, a escolha da fantasia. Via de perto o nascimento de cada peça, com as costureiras que, incansavelmente, trabalhavam lá, onde morávamos, no seu andar térreo. Estive ao lado da concentração onde o maestro Reginaldo "Bigodão" comandava uma banda de músicos de "não-sei-quantos" homens para sair da Mouraria e conduzir Os Internacionais rumo ao seu desfile. Instrumentos de sopro em cima do caminhão. Instrumentos de percussão ao chão.
Com minha mãe, de marajá



Cresci utilizando cada uma das fantasias do bloco, e me apaixonei com a paixão de meu pai, louco por Carnaval mas, principalmente, para "ver o bloco na rua". Chorei com a sua emoção que derramava lágrimas ao avistar, de longe, o bloco despontando na Avenida com seus 1.500 integrantes e suas alegorias de mão abrindo alas para um espetáculo belíssimo e inesquecível. Angustiáva-me com a sua eterna angústia que, ao perceber que o seu bloco estava perfeito, iniciava a torcida para que tudo logo acabasse, sem problemas, sem percalços, sem confusão. O ato de colocar o bloco na rua era a sua paixão, o seu ideal. A percepção, à quarta-feira de cinzas, de não ter havido contratempos, coroava o seu carnaval e alavancava a preparação do ano seguinte.
Com irmão, pai e mãe, no "Eu e Ela"

Em paralelo, via de perto o Cheiro de Amor exalando sua fragrância na Avenida e usando um macacão por 3 dias consecutivos. Imaginem como se encontrava o mesmo no último dia de carnaval, posto que era impossível lavar e secar tal tipo de tecido de um dia para o outro. Vi o Camaleão de Luís Caldas, o Crocodilo do Asa de Águia, o Eva de Ricardo Chaves. Vi as mortalhas invadirem multicoloridas as Avenidas do Centro de Salvador. Vi, ainda os blocos subirem até a Sé, pararem para um leve descanso e descerem para a Carlos Gomes via Praça Castro Alves quando, não raro, encontravam outro bloco em sentido inverso. Me desesperei quendo o trio dos Comanches perdeu seus freios na descida da Sé matando inúmeros foliões e gerando o pânico na praça do poeta.
Com mãe e irmão, de gondoleiro


Enquanto isso, saía no Domingo e na Terça fantasiado de romano, marajá, gondoleiro, pierrot, chinês, imperador inca, príncipe, pirata, dentre outros. Isso nos Internacionais, onde os homens estavam dentro das cordas e as mulheres compunham o séquito no lado de fora.

No Sábado e na Segunda, a coisa mudava de figura. A família inteira estava reunida no "Eu e Ela", utilizando-se de mortalhas e, assim como em "Os Internacionais", a condução era realizada pela grande banda Chiclete com Banana. Os foliões dançavam, brincavam, curtiam, namoravam, bebiam. Eu estava vendo o Carnaval sendo feito e utilizado pelas mesmas pessoas. O organizador era folião. O ambulante, idem. O cantor, também. O radialista, igualmente. Bem como os artistas, intelectuais, políticos e todos os segmentos sociais.
Com meu irmão, de árabe

Apesar de muito pequeno, vivi tudo muito de perto. Minhas primeiras imagens da infância me remetem à rotina matutina da organização carnavalesca, com a chegada do trio, a preparação das cordas, o teste do som, a dinâmica dos caminhões com os "engradados de cerveja" abastecendo os bares e ambulantes na área do quartel dos Aflitos, o mamãe-sacode empunhado com orgulho...

Ah.... os Mamães-Sacode... Esses eram, talvez, as maiores referências do Carnaval da Bahia. Compunham elementos de estética visual indescritíveis que, ao serem atiçados conjuntamente ao ar davam, ao espectador, uma visão sublime, que demonstrava indelevelmente o fracasso ou o sucesso do artista de trio, do puxador de bloco.
Com meu pai, no "Eu e Ela"
O bloco Tiete Vips, popularíssimo, através do saudoso Val Valle e da Banda Tiete Vips nos brindavam com um espetáculo deslumbrante ao adentrar a área do palanque do Campo Grande. Quem não lembra do famoso grito de guerra: "Tiete Vips chegoooooou, ê aê aô".

Vi o Frenesi de Adhemar e Banda Furta Cor. Vi, ainda, a deslumbrante Banda Mel com o seu Prefixo de Verão e a sua Baianidade Nagô. Acompanhei a Reflexus com o seu Madagascar Olodum e o Canto para o Senegal.
Com meu pai e irmão, de árabe

Acompanhei os "gênios" do carnaval baiano que, sob a aura da modernidade, extirparam a nossa mais pura cultura. Os magos criadores do abadá e carrascos das fantasias e mortalhas. Não há mais alegorias de mão. Não há mais a alegria do mamãe-sacode eclodindo no ar das ruas centrais de Salvador. Criaram o circuito alternativo na Barra e desterraram a Avenida. A partir do momento em que ficaram de um lado os criadores e, do outro, os foliões, o Carnaval da Bahia passou a ser um espetáculo midiático, de compra e venda de pacotes publicitários, perdendo toda a sua verdadeira essência. Os camarotes são excrescências deste processo, onde se ouve 90% de música eletrônica e, muito raramente, surge alguém que recorda estar no Carnaval da Bahia e vai dar uma espiadinha no trio que está a passar.
Meu pai, de romano

Há alguns anos, acreditem, fiz a bobagem de  participar de um bloco puxado pelo tal do Tuca Fernandes, o bloco Eu Vou. A cena que presenciei era dantesca. Inúmeros adolescentes não estavam nem um pouco interessados em dançar, pular, brincar. Era uma sequência tão bizarra quanto assustadora. Parecia um filme de zumbis, ou mesmo o seriado "The Walking Dead". Adolescentes totalmente dopados, olhos vermelhos, bocas abertas, babando e procurando outras bocas para consumar um ato que, em nada, se lembra ao clássico beijo de carnaval. Nem Kubrick poderia descrever um cenário tão aterrador.

Meu pai, improvisando, se o
percussionista atrasava
Arlequim morreu. Colombina se prostituiu. Pierrô abriu uma seita fanática religiosa. O folião não quer mais folia. O cantor não quer saber do folião, e sim da mídia. Ninguém agita mais ninguém para que o seu bloco seja o mais animado da Avenida. O cantor só faz cena para aparecer nas telinhas da Band Folia ou atrasa a apresentação para entrar ao vivo no Jornal Nacional.

Queimaram a fantasia. Extirparam a magia. Roubaram, enfim, o meu mamãe-sacode.

Esta crônica é uma homenagem especial ao meu saudoso pai, Luiz Gagliano (ou, simplesmente, Galiano), e aos não menos saudosos: Alberto Carrera (tio Carrera), Alberto Fuezi (tio Betinho), (tio) Rubico e Fernando Escariz. Que se sintam também homenageados os grandes amigos (Dr.) Adelmo Schindler, Raimundo Sobral, (Dr.) Anorailton Silva, Walter do Espírito Santo (o Waltinho), Edson Felzemburg (o Edinho), Fidel Castro Pereira, Rosiel e Adolfo Ventim (o Papito).

domingo, 22 de janeiro de 2012

Galinha Pintadinha - O Óbvio Fenômeno

(SALVADOR - Cacarejando em azul) - Na década de 80 uma galinha, estranhamente na cor azul, virou fenômeno de marketing publicitário. A Maggi, ao lançar a sua campanha, deu atenção especial ao produto "Caldo Maggi", e associou a este a imagem e os jingles de uma galinha azul que arrebatou de bate-pronto o gosto infantil.


No biênio 2010/2011 uma febre arrebatadora atinge um sucesso há muito desejado mas pouco conseguido pelos marqueteiros de plantão. Um mix de vídeos despretensiosos, com um traço singelo, uma explosão de cores e a utilização de canções típicas do cancioneiro de roda brasileiro, fez com que, mais uma vez, uma galinha azul se transformasse em unanimidade entre os pequenos na faixa de 0 a 3 anos.

 
Desta vez a galinha tem nome. Um pouco banal, é verdade, mas, a GALINHA PINTADINHA está no imaginário das crianças brasileiras. E não se trata de uma questão regional. Por todo o país a "febre da galinha" atingiu os pequenos, não respeitando quaisquer fronteiras, independente, inclusive, de classe social.

Ao presenciar no Fantástico (Rede Globo) o surgimento deste fenômeno, constatei que o "boom" da GALINHA ocorreu casualmente, tendo o material de trabalho sido recusado pelo contratante, fato que, por conseguinte, levou os seus autores a disponibilizá-lo no youtube, explodindo como blockbuster.

Daí eu pergunto: Como uma sociedade que se diz ser vanguardista consegue ser tão omissa? Como obviedades tão singelas são desapercebidas por aqueles que, por formação, deveriam ter a plena consciência?

No universo dos muito pequenos não existe margem para a segmentação. Isto significa dizer que dos 0 aos 3 anos existe uma linha homogênea de gostos e percepções que une todos os pequeninos. Ora, e o que lhes atrai? Música e cor, evidentemente. E o que oferece "A GALINHA PINTADINHA"? Nada além desta óbvia receita.

Será que temos bons educadores? Bons pedagogos? Bons publicitários? Bons artistas gráficos? Me atrevo a dizer que não.

Existe um canal fechado chamado "Discovery Kids" que utiliza inúmeros "enlatados" educativos estrangeiros que atraem mas estão totalmente dissociados da nossa realidade. Desenhos como "Sid, o Cientista", "Pocoyo", "Franlin", "Barney", "Hi-5", "Mecanimais", "Backyardgans" abusam, em maior ou menor grau da capacidade de entreter, divertir e ensinar os pequeninos. Mas o uso da simples dublagem sem correlação com a nossa sociedade tornam o aprendizado inócuo. E onde está a nossa criação nacional?

Onde estão os nossos educadores, pedagogos, publicitários e artistas do som e da imagem? Eles simplesmente inexistem. Ou estão sendo formados sob uma ótica totalmente equivocada.



Canais com um pouco mais de conteúdo nacional como o Ra-Tim-Bum ou a Tv Cultura são, simplesmente, uma lástima. O conteúdo nacional é pouco e fraco, salvo raríssimas exceções.

Chega-se ao absurdo de  percebermos que nossas crianças são "entubadas" com programas com conteúdo absolutamente em inglês que objetivam única e exclusivamente o primeiro contato com as letras e palavras  (como nos casos do "Super Why" ou do "Word World"). A tradução/dublagem seria cômica se não fosse trágica pois, ao invés de educar, acabam por confundir conceitos iniciais nos pequenos.


E não se diga que os detentores dos direitos da Galinha Pintadinha são homens de visão. O "tiro" deles parece ter sido meramente acidental. Após o sucesso estrondoso dos lançamentos "Galinha Pintadinha vols. 01 e 02" eles simplesmente pararam no tempo e deitaram nos louros.

Ora, repertório do cancioneiro infantil nacional não foi explorado nem em 30% daquilo que nossas mães e avós cantavam para dormirmos. Por quê não elaboraram os volumes 3, 4 e 5 em sequência se existia (e existe) demanda?

Observaram a explosão de diversas peças teatrais não-oficiais que lotaram (e ainda lotam) os teatros no Brasil. Iniciaram uma luta judicial contra estas, que apenas estavam "surfando" num vácuo que eles mesmo estavam deixando. Por quê não se adiantaram e/ou a estes se associaram e definiram parâmetros mínimos?


Demoraram mais de 6 meses para elaborar um musical teatral que, após lançado, não saiu do estado do Rio de Janeiro. Por quê não treinaram diversos grupos para explorar o espetáculo cobrindo uma maior extensão geográfica?

Esqueceram que o sucesso do produto lhes permite o usufruto de itens adicionais (brinquedos, jogos, produtos para festas, decoração, roupas, etc.) Apenas após 2 anos de sucesso começam a surgir os brinquedos. Quanto a decoração, festas, roupas... nada. 

Por quê a GALINHA PINTADINHA ainda não está associada a nenhum grande canal de televisão? Quem conseguir me dar qualquer explicação plausível,que se manifeste.

O que mais me intriga é que a inércia destas pessoas não eclodiu uma horda de interessados em explorar esta lerdeza (exceto no que tange ao teatro). Não seria estranho se neste intervalo aparecesse o GATINHO LARANJINHA que aproveitasse toda esta lacuna acima citada.

Enfim, cada dia mais percebo que escolhi a profissão errada. Se optasse pela educação quiçá estivesse mais rico que a Griselda, mesmo sem ganhar sozinho na loteria.

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Quando um Pé Quebrado é Recomeço

Por Soraia Barreto Menezes

SALVADOR - (Eu, eu mesma e meus pinos) Vá lá que o pé está quebrado, mas quem vai ficar falando apenas de dores e limitações? O momento é de um paparico só, encontros saborosos, aquietação, tranqüilidade, e o aprendizado, este sim é forte.
Sabe de uma, todos nós precisamos encontrar com os amigos, ainda que no Facebook, no blog, ou no mundo virtual, de tempo para ouvir música e sentir a brisa - que vem do Atlântico - entrar pela varanda contando que é verão. Não é que o baiano viva na rede - a minha não via o gancho há meses - é que nem só de rede de dados e rede social vive o homem, nossas redes de relacionamento pedem presença, e esta, não pela metade, mas inteiros.


O pé quebrou, e junto com amores, amigos, pinos e parafusos a Alma remenda outras fissuras. A mão segura as muletas, tricota, afaga, escreve e toca a pele de mansinho, ela sente não poder "carregar" enquanto caminha, precisa aprender a caminhar sem "segurar as coisas", a pegar sentada e atenta ao momento.


Vixe! Me lembrei de Merleau-Ponty, Martin Buber e Rolando Toro. É hora de estar consciente e comigo mesma . De me tocar e respirar o Sopro Divino. Esta constatação vem trazendo um sorriso largo, há muito conhecido e por muitos amado. Olha, vejam só: o momento agora é o Encontro.


O bolo de tapioca, o sorvete de jaca, as pastas de gorgonzola com beiju, o pão de queijo, o vinho tinto e seco, a tigela de açaí com cupuaçu, o creme de graviola com melaço, o aipim com ovo, a maxixada, a boa salada de folhas e outras delicias, a água de coco, o inhame com azeite doce e shoyu, a batata doce com leite de coco, tudo feito ou providenciado com porções generosas de amor...


Marisa, Carlinhos, Moreno, Michael, Hebert, Seu Jorge, Osvaldo, Bazico, Gil com Caetano e Ivete, Chico, Saulo, Jau, o povo e as canções que Boscoli toca na trama do UOL, que os amigos postam no face e mais aqueles garimpados no youtube - doce companhia musical.


Meia Noite em Paris, Cartas para Deus, O Velho que Lia Romance de Amor, Larry Crowne, Forest Gump – novamente, Um Conto Chinês, Histórias Cruzadas, A Era do Gelo 2, Uma História de Natal, A Árvore, O Filme dos Espíritos, A Pele que Habito, Ferro e Fogo – Tempo de solidão, Um Mestre em Minha Vida, Ray... Ah, a sétima arte e suas humanas histórias.


Todo dia a assistência de Seu Alberto, a mãe e a filha amorosas - cuidando de tudo... o amor presente quando distante e inteiro quando presente. Os amigos? Vem me ver, ministram Johrei, uns ligam, outros oram, muitos sentem falta, um convida a escrever, eu sinto quanto sou amada por Deus e é bom me deixar sentir tudo isso.

*Soraia Barreto Menezes, colaboradora do CrônîcAtiva é economiária, nutricionista e uma pessoa de bem com a vida, amada e cuidada por todos aqueles que tem o prazer da sua convivência.

sábado, 7 de janeiro de 2012

Porque hoje é Reis...


SALVADOR – HOSPITAL PORTUGUÊS (Presenciando a vida...) – Hoje, no calendário católico comemoramos o Dia de Reis. Pela tradição religiosa foi neste dia que os 3 Reis Magos, Gaspar, Balthazar e Melquior chegaram, enfim, guiados pela Estrela-Guia ao local de nascimento do Jesus Nazareno e lhe ofertaram 3 das mais importantes iguarias daquela época: incenso, ouro e mirra.

Em diversos países é esta a tão esperada data onde as crianças, movidas pelo brilho da ingenuidade, aguardam pela tão ansiada troca de presentes - tradição muito mais lógica e coerente do que a do velho barbudo de roupas quentes e vermelhas que voa através de não-sei-quantos veados (ou renas, se assim o preferirem) com um saco enorme, jogando presentes nas chaminés.

Em Salvador, na minha estimada Bahia, é momento da Lapinha entrar em festa, com a tradição do Terno de Reis, apequenada após o desterro ecumênico da caricatíssimo Padre Pinto que tanto reacendia a tradição daquela singela comunidade.

Hoje, pela manhã, o mundo deu uma pequena pausa, titubeou e ofereceu uma oportunidade para a eclosão daquilo que é simplesmente sublime. Ocorreu um daqueles fenômenos que apenas são “explicáveis pelos inexplicáveis astrólogos”, que insistem em vincular cada elemento significativo da nossa existência a uma fatídica e incompreensível conjunção de astros interplanetários.

Assim, no dia em que Vênus entrou em sincronia com Marte e Saturno interceptou a trajetória da Lua em conjunto com Plutão, levando Mercúrio “de quebra”, ocorreu a personificação do triunvirato na minha existência.

Hoje, no dia 06 de janeiro de 2012 eu, em pessoa, cumpri o meu Terno de Reis. Terno este iniciado com o nascimento do Rei Mateus, o rei meigo, primogênito e destinado a tudo aquilo que a sua plácida bondade puder atrair. Terno este secundado pela chegada da Rainha Sofia, explosiva, serelepe, em igual nível à sua capacidade de cativar por espontânea empatia. Terno este, enfim, plenamente cumprido com a recepção calorosa do Rei infante Miguel que, neste preciso dia 06 nos presenteou com a sua chegada, angelical e emocionada, que pôs em marcha a perfeita harmonia de um tríduo de alegrias indescritíveis e que louvam a beleza da vida.

Bem vindo ao mundo, pequeno Miguel. Não é o mundo ideal que tanto gostaríamos de lhe presentear mas, com a centelha da bondade no coração e a plena capacidade de amar, tenha certeza de que a felicidade sempre lhe acompanhará e irradiará a todos aqueles que tiverem o prazer da sua companhia.

Que os Reis Magos possam lhe presentear com todas as bênçãos que lhe garantam uma vida de paz, saúde, harmonia e felicidade. Bem vindo!

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

O Ano Novo e o Caderno: “Por quê não pensei nisto antes?”




SALVADOR - PRAIA DE ARMAÇÃO (Tudo é festa na Bahia e no mundo) - Hoje é 1º de Janeiro e, como sempre, vejo milhares (ou talvez milhões de pessoas) nos diversos cantos do mundo se congratulando. Estão em plena euforia, orando, sorrindo, se abraçando, enchendo a cara e esperando que o 2012 venha repleto de conquistas e realizações de todos os sonhos projetados.

Mas, o que uma mera mudança de data possui para ensejar tal expectativa? Qual a fonte que motiva uma crendice inexplicável de que, a partir da zero hora de um simples domingo haverá a conjunção de aspectos sobre-humanos que repercutirão em um ano repleto de realizações?

Deste questionamento me remonto ao período estudantil. No início de cada ano letivo uma expectativa juvenil nos acalentava sempre que nos deparávamos com os livros didáticos que nos acompanhariam no curso daquele ano, daquela série. Mas, além dos livros lindos, cheirosos, novinhos, sempre aparecia a figura do caderno. Do caderno novo.

Geralmente apresentava aquela capa escolhida, além da espiral colorida ou metálica e, em regra, com 10 ou 12 matérias. O primeiro contato com o caderno novo representava um regozijo de promessas e expectativas de um ano melhor, de que, enfim, naquele ano, tudo daria certo.

Ao observar cada folha em branco, com as suas pautas intocadas, me vinha a promessa de que, naquele ano, eu não trataria o meu caderno da forma irresponsável com a qual o tratei no ano passado. A divisão de matérias seria 100% respeitada, me esforçaria para manter a letra bonita. Evitaria quase que neuroticamente arrancar as suas páginas e, de forma nenhuma o verso da última folha seria objeto de apontamentos vis, letras de música ou “jogos-da-velha”.

O caderno novo era o momento em que permitíamos uma avaliação íntima de tudo o que fizemos de errado no ano letivo anterior e projetávamos uma melhor conduta, uma evolução comportamental desejada, mas, na maioria das vezes utópicas.

E muitas vezes os nossos sonhos não podiam ser cumpridos por questões alheias ao nosso desejo. Às vezes o professor nos exigia escrever tanto, que a sua matéria extrapolava o espaço de outra disciplina. Às vezes projetávamos uma divisão equitativa que não se aplicava à metodologia de ensino de cada matéria, ou de cada professor.

Mas, na maioria das vezes não cumpríamos a nossa expectativa inicial porque entre a nossa projeção utópica e o nosso verdadeiro “eu” existe a distância do sonho, daquilo que desejamos, do que é alcançável, ainda que no campo da nossa imaginação.

E, tal qual um caderno, a vida nos ensina que a virada do ano é momento de querer. De desejar sermos melhores do que no ano anterior. De errar menos e acertar mais. De sermos mais um pouquinho daquilo que entendemos ser correto e justo. De sermos felizes.

Um caderno, ao final do ano nunca era o que efetivamente tínhamos projetado. Mas, enfim, era o instrumento que materializava as experiências positivas e negativas daquele ano. Além do mais, um caderno NUNCA era igual ao do ano anterior.

Assim, não sei se 2012 trará tudo aquilo que pedimos, mas, ao seu final, teremos a certeza de que crescemos mais um pouquinho na direção daquilo que mais nos importa, a eterna busca de um ideal.

Um bom 2012 para todos vocês e um caderno repleto de alegrias para todos nós.